Peter Lund, que viveu no Brasil por mais de 40 anos e fixou residência em Lagoa Santa, fez grandes descobertas de fósseis
Amanda Almeida
Nada passava despercebido para o dinamarquês Peter Lund. Considerado pai da arqueologia e paleontologia no Brasil, o pesquisador descobriu mais de 12 mil peças fósseis que permitiram escrever a história do período Pleistoceno no país - o mais recente na escala geológica - numa época em que o passado tropical era quase desconhecido pela ciência. Morto em 1880 e enterrado em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde fez a maioria de suas descobertas, Lund será homenageado com a instalação de uma escultura vinda da Dinamarca para a cidade mineira. O cônsul-geral da Noruega, Jens Olesen, responsável pelo presente, inaugura a obra amanhã, ao lado do túmulo do paleontólogo, na Rua Caiçara, no Centro de Lagoa Santa.

Com olhos na face e nas costas, a escultura em mármore branco, de 730kg, 1,80m de altura, 0,60m de largura, representa um mensageiro. "Na época dos achados de Lund, a arqueologia não era desenvolvida em Minas. Ele ultrapassou todas as barreiras. Nada mais apropriado que um mensageiro, como elo entre o estado e o mundo, para homenageá-lo", explica o secretário de Turismo de Lagoa Santa, Túlio Coutinho Bernardes. Trazida de navio para o país, a obra é de um dos artistas dinamarqueses mais conceituados, Jesper Neergaarde.

O dinamarquês Peter Wilhelm Lund, nascido em 1801, mudou-se para o Brasil fugindo do clima nórdico, temeroso da tuberculose que vitimara dois irmãos. No país, Lund descobriu ossadas do chamado homem de Lagoa Santa, que puseram em xeque uma série de pressupostos aceitos pela então incipiente paleontologia. Descobriu também as preguiças gigantes: Lund percebeu que havia duas espécies distintas na América do Sul - até então apenas uma era reconhecida.

Muito estimado pelos habitantes de Lagoa Santa, o paleontólogo era chamado de doutor Lund na cidade. Porém, por ser protestante, não pôde ser enterrado no cemitério local. Comprou um terreno que mandou murar no Centro da cidade, onde será inaugurada a escultura, para ser sepultado. Lund avisou que queria ser enterrado à sombra de um pequizeiro, vivo até hoje. Ao lado do túmulo, marcado por uma lápide de mármore negro, foi erguido um monumento - por iniciativa da Academia Mineira de Letras e hoje tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - a Lund e a Eugene Warming, botânico que veio a Minas a convite do paleontólogo para estudar o cerrado.

COMEMORAÇÕES


Primeira banda de música, a Corporação Musical de Santa Cecília de Lagoa Santa foi fundada e custeada por Lund. O grupo é mantido até hoje pela prefeitura e tocará amanhã na inauguração. O cônsul norueguês também realiza visita ao ateliê do artista lagoa-santense Celso Vieira. O artesão está esculpindo em madeira a imagem de Lund em tamanho real. Para meados de 2010, está prevista a entrega do museu, ao lado da Gruta da Lapinha, a 53 quilômetros de BH. "É uma parceria entre a prefeitura e o governo de Minas com as autoridades dinamarquesas. O museu vai abrigar parte da coleção de Lund que virá da Dinamarca", conta Bernardes.


Fonte: Jornal Estado de Minas - 02/09/2009